23.6.10

Solo


“Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois?"
Caio Fernando Abreu

Fim de tarde, começo de inverno. Metrô lotado, cabeça cheia e peito vazio rumo ao trabalho. Uma animosidade que só não era mais profunda porque, no fundo, havia a esperança de que algo bom acontecesse, assim do nada.
A agitação mental era tanta e a secura no coração tamanha que nem sequer me lembrava dela – a Dor. Ela que nunca soube descrever, jamais soube nomear nem sequer estabelecer sua dimensão.
Eis que ao contemplar o pôr-do-sol, ali de dentro do metrô lotado, a rádio toca uma canção belíssima, embora tristíssima, e reconheço de imediato a Dor. Ainda não sei o nome, a forma ou a dimensão que tem, mas tenho plena certeza do som que ela reproduz.
Solo executado pelo violinista Nicolas Krassik na faixa Juízo Final (Nelson Cavaquinho) do disco Poeira Leve, de Adriana Maciel.

Um comentário:

Breno Romanini disse...

Eu me lembro, há alguns anos, de você comentar comigo que gostava mais do pôr-do-sol no inverno, pois nessa época do ano suas cores ficam mais intensas e bonitas. E com essa lembrança eu te desejo fins de tardes mais bonitos e alegres. Abs.