Pôr do Sol no Arpoador. Luar violão e o som do mar. Vinho e edredom. Dormir de conchinha. Acordar com beijos. Banho quente - a dois. Músicas e poesias - ao pé do ouvido. Longo silêncio seguido de apenas um sussurro – fico mudo. Acordo só.
Relendo:
Claro Enigma (Carlos Drummond de Andrade)
Sonho de um Sonho
Sonhei que estava sonhando
e que no meu sonho havia
um outro sonho esculpido.
Os três sonhos superpostos
dir-se-iam apenas elos
de uma infindável cadeia
de mitos organizados
em derredor de um pobre eu.
Eu que, mal de mim!, sonhava.
Sonhava que no meu sonho
retinha uma zona lúcida
pra concretar o fluído
como abstrair o maciço.
Sonhava que estava alerta,
e mais do que alerta, lúcido,
e receptivo, e magnético,
e em torno a mim se dispunham
possibilidades claras,
e, plástico, o ouro do tempo
pra todo o sempre, para
um sempre que ambicionava
mas de todo o ser temia...
ai de mim! que mal sonhava.
(...)
Sonhava, ai de mim, sonhando
que não sonhara... Mas via
na treva em frente a meu sonho,
nas paredes degradadas,
na fumaça, na impostura,
no riso mau, na inclemência,
na fúria contra os tranqüilos,
na estreita clausura física,
no desamor à verdade,
na ausência de todo amor,
eu via, ai de mim, sentia
que o sonho era sonho, e falso.
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