17.5.06

21/03/2006


“Cada um de nós possui um repertório de faces – um elenco de personagens (...) Da mesma forma que atuamos como atores tentando criar uma fachada, a nossa ‘audiência’ é igualmente composta de outros atores que estão tentando criar seus próprios personagens (...) é um tipo de processo teatral em que colaboramos com outros atores que parecem improvisar cenas nas quais os nossos personagens se enredam.”
(ADLER, Ronald et RODMAN, George. Comunicação Humana, In: Percepção, o Eu e a Comunicação. Rio de Janeiro, ed. LTC, 2003.)





Estudando ‘Psicologia da Comunicação’, deparei-me com o artigo citado acima que discute, principalmente, o gerenciamento da identidade como instrumento para a comunicação. Os autores afirmam que gerenciamos nossa identidade a fim de criar impressões através das quais os outros nos percebem. Moldamos estas impressões objetivando alcançar, sobretudo, a aceitação social e, até mesmos, outros objetivos pessoais.

Somos formados por diversos “eu”: o “eu público” e o “eu privado”, como definem os autores. Tanto o eu privado quanto o eu público são constituídos por diversas faces que construímos com o passar dos anos. O eu privado é o reflexo do nosso autoconceito, ou seja, daquilo que acreditamos ser. Já o eu público é a forma com a qual nos apresentamos às outras pessoas, mesmos as mais íntimas.

O uso destas “fachadas” é indispensável para que consigamos lidar com as mais diversas situações e pessoas. Afinal, ninguém se comporta na frente de um juiz do mesmo modo como entre amigos de infância.

Atuar com diversas faces no dia-a-dia não significa falta de personalidade nem é sinônimo de falsidade. Pelo contrário. Múltiplas faces é diferente de múltiplas personalidades. Mantemos sempre uma única personalidade e usamos nossas variadas faces de acordo com o evento que vivenciamos. O fato é que a honestidade (ser honesto consigo e com os outros), ou seja, nossos valores morais, é que determina quais as faces construímos e de que maneira as utilizamos.

Ontem apresentei um trabalho sobre o tema e hoje, coincidentemente, fiz uma reflexão prática a respeito do mesmo.

Sempre tive vontade de fazer teatro, ser um ator. Cheguei até mesmo a pensar em cursar Artes Cênicas, mas, apesar de muitos acharem que tenho perfil, não julgo-me capaz de interpretar personagens além daqueles concebidos pelo meu “autoconceito”.

Hoje, através de um comentário (que dispensa comentários!), me lembrei, infelizmente, de uma peça teatral na qual fui o grande protagonista. Mas a peça não emplacou nos palcos, pois não renderia bilheteria alguma. O texto era de um dramaturgo “estrela”, competente em criar e dirigir comédias, mas displicente ficcionista no drama.

Em função do texto mal escrito e inacabado, fui colocado no meio do palco, com um holofote iluminando minha cara (rasgada) e com o público (distante) rindo da piada sem graça. Riam, não sei, para reanimar o personagem ou para enaltecer o autor.

Apaguei da minha memória aquela cena e desisti da carreira cênica.

Relembrar, hoje, a passagem daquele texto despertou-me um sentimento de desprezo e repugnância. Por um momento me senti mal, mas, sem dúvida alguma, não vale a pena. Os que me conhecem, nas minhas mais diversas faces, me alegram sem precisar me aplaudir.


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