Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo 'mais', se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora.
Caio Fernando Abreu
“Para mundo porque eu quero descer!” – Lembrei desta frase e sorri bobo.
No fim do último dezembro, chegada a hora do tal balanço, estava me sentindo meio assim: seco. Passeando pela memória lembrei que no mesmo período do ano anterior enviei um email para uma amiga, que amo muito, desabafando meu estado de espírito naquele momento. Reli o texto e percebi que na ocasião em que o escrevi eu me sentia da mesma forma: seco. Mas, ainda havia dor.
Nesta semana tenho me sentido muito assim: seco. Tentei escrever, mas as frases não se encaixavam. A secura é tanta que os pensamentos entram em atrito, não se combinam. Então reli aquele mesmo email e percebi, claramente, que agora nem há (ou parece não haver) mais dor. E é isso aí:
Data: Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2008
Assunto: Só eu sei, Vivi...
Ai, Vi....
“Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei”.
Não queria te falar dessa dor assim, por e-mail, à distância. Mas, mesmo que estivéssemos cara-a-cara, eu não diria nada diferente. Apenas repetiria que dói, dói... e dói muito, Vi.
Não sei dar explicações, Vi. Não tenho explicações a dar. Talvez por que não tenha explicação mesmo. Mas explico-me (a mim mesmo, mesmo) que, nos últimos dias, o “tal” balanço me atordoa. Aquele balanço que a gente faz quando é fim de ano, ou quando chega nosso aniversário, sabe? Você tenta colocar na balança aquilo que desejou, e aquilo que conseguiu; aquilo que ganhou, e aquilo que perdeu; aquilo que sentiu, e aquilo que negligenciou; aquilo que era, e já não é mais; ou mesmo aquilo que é agora, e que nunca havia sido antes.
Controvérsias... controvérsias....
Você não deve estar entendendo nada, nobre amiga libriana. E temo pelas preocupações que esse meu desabafo bêbado possa suscitar em você. Mas não se preocupe. Não é nada tão grave, embora eu sinta como se essa dor fosse, enfim, o fardo que não vou conseguir carregar... No fim, sei que vou conseguir. Mas, por enquanto, só dói... e dói tanto.
A dor deve ser provocada pela alternância dos pratos da balança que ouso utilizar sem auferir. O balanço começa pelo fim de curso... quatro anos... O que foram esses quatro anos? O que fiz nesses quatro anos? O que fiz desses quatro anos?
Daí lembro que há oito concluí o segundo grau... Que foram esses oito anos? Que foram os quatro penúltimos anos antes dos quatro últimos? E o que representa todo o conjunto destes oito anos? Que fiz deles? Que me fizeram eles?
Logo lembro que neste conjunto de anos, veio a Bia... E o que é a paternidade na minha vida, Vi? Que fiz eu para merecer ser pai de uma menina tão linda? Que faço eu para agradecer tão divina glória?
Num próximo instante lembro que faz dez anos que conheço o David; doze que conheço você; vinte e quatro que conheço Nívio... E o que significam vocês para mim? O que significam vocês na minha vida? E o que significo eu na vida de vocês? Daí, penso naqueles outros amigos que conheço há pouco; há meses; há semanas; há dias... E sinto raiva por valorizar, em determinados momentos, mais aqueles que só me procuram por motivos/interesses que, na maioria das vezes, desconheço que são torpes. E me entrego. E você sabe o quanto me custa essa entrega e o quanto ela me dói. E dói demais mesmo, Vivi.
E penso ainda o que representam este quase 1/4 de século de vida... as duas décadas pelas quais passei e a terceira pela qual estou passando... Passo por elas ou elas passam por mim? Somo os anos, ou me subtraem os meses? Traio eu a vida troçando tanto dela?
Ah! As esquinas... passei por tantas, Vivi, que só eu sei. Assim como julguei saber, nestas mesmas esquinas, para qual lado me guiar, ignorando os avisos de “segue por aqui, porque por ali é furada”... Só eu sei os erros reais que cometi, Vi, embora os negue tanto.
Mas dói tanto, Vivi... Doem muito as certezas, e doem mais ainda as dúvidas. E são tantas as dúvidas.
As dúvidas somam o vazio que tanto me dói. E se, ultimamente, pondero tanto as certezas do passado, certamente é porque as dúvidas do futuro me afligem muito mais.
Tenho medo do futuro, Vi, porque não o vejo. Talvez me dissesse agora que para todos o futuro é incerto. Concordaria contigo. Mas tenho medo, Vi, e isso me dói... tanto.
Não sei se agradeço, ou se me desculpo pelo desabafo... Mas...
Beijos, Vi!
Dan.
3 comentários:
Me deu na telha de olhar uma página minha que reúne os links de blogs diversos, incluindo o seu.
Na hora me perguntei pq fiquei tanto tempo sem ler suas palavras!
Parabéns pela escrita moço!
Vou voltar aqui mais vezes... mas peço para que aguarde eu tetirar as teias e o mofo que habita aquele meu espaço, ok?
Um forte abraço!
e aconteça o que acontecer, "continue respirando!"
Amigos de verdade são para sempre!
Não importa o tempo.
Grande abraço.
Amigo
Que isso hein Dan.... lindo lindo lindo! Como sempre, vc passa mto bem o que vc quer passar, e vc marca... ah e como marca!!
Te amo!
Bejus amore
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