26.3.08

Da Redação

Relendo:
Carta ao Zézim – Caio Fernando Abreu

“...Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / Círculo vicioso...”




Um gosto amargo de melancolia e desamor se mistura ao gosto azedo do tabaco e à acidez da cafeína. Muitos cigarros e muitos cafés em meio à agitação obsessiva em busca de alguma tal verdade qualquer. Fatos, notas, boletins. Politiquices, politicagens, sangue, desastres, tragédias, desigualdades, impunidades, injustiças. Deus, salvai o vosso povo!

O tempo que não pára corre lento junto ao gosto amargo que comprime a glote. Ansiedade por fatos pessoais que não se concretizam. A manhã é branca, mas das vidraças vê-se o amarelo sutil de um sol tímido por trás do resto de serra ainda verde. Lá em baixo — reflito — muitos escutam minhas palavras. Lá em cima — pressinto — alguém me observa sem se pronunciar.

Dentre algumas horas ganho novamente a rua. Sairei a esmo em meio ao pó seco e cinza do asfalto. Nelson à tira-colo e Caio, certamente, me repetindo sua prosa impura. Como de praxe, uma canção se fará trilha sonora da memória triste. Talvez Betânia com sua versão daquela música do Herbert ou, quem sabe, aquela antiga da Rô Rô, ou qualquer outra que trate de eufemismos.

Os dedos estarão, como há tempos, compridos como que tentando espremer o tempo numa ânsia de que tudo mude em poucos minutos como na manhã de gosto amargo. E a ansiedade se fará ainda mais presente a cada ameaça de toque do telefone, esperando ouvir aquela voz que não fala, que não mente, nem tampouco diz verdades. Esperando ouvir qualquer “saudade”. Esperando... desesperado.

6 comentários:

Breno Romanini disse...

Tudo tem seu tempo, amigo. Não se esqueca de que, apesar de tudo, mesmo aos trancos e barrancos, as coisas têm caminhado sempre em frente.

Muito trabalho nessa hora.
Muita calma nessa hora.
E, mais difícil, paciência.
Muita paciência nessa hora...

Abs.

Allex disse...

Nestes momentos de pura melancolia amarga, as trilhas sonoras são como um bálsamo na alma... betania, rô rô... um "grito de alerta" na voz de gonzaguinha... palavras ao vento adocicando o gosto amargo das manhãs!
muito bom voltar aqui... aos pouco tb estou de volta ao meu cantinho, vc é sempre bem vindo!

Pkena disse...

Como sempre as palavras que saem da sua alma vão te encontro à minha com uma força descomunal. Ansiedade, saudade... sentimentos que desesperam, mas que às vezes impulsionam. És forte, coeso, mesmo que sua verdade seja para poucos. Se vale um conselho: não sinta saudade do que nunca existiu. Um dia, que espero ser breve, sentiremos alívio até pelo que não se fez.

Anônimo disse...

Gostei de espiar os seus Solilóquios. Me fez pensar bastante. Ansiedade. Há um bom tempo eu espero acontecer algo, que nem sei bem o que é, mas eu espero. Obrigado pela visita no meu blog. É Sempre bem vindo! Abraço!

Anônimo disse...

Gostei de espiar os seus Solilóquios. Me fez pensar bastante. Ansiedade. Há um bom tempo eu espero acontecer algo, que nem sei bem o que é, mas eu espero. Obrigado pela visita no meu blog. É Sempre bem vindo! Abraço!

Ewerton Martins disse...

Se Caio e Nelson por ventura alguma hora não forem companhia suficiente para subjugar a amargura, chame a pinga à baila. Em determinados momentos da vida, só ela resolve. E não, definitivamente eu não sou mais da turma do politicamente correto.