25.4.08

Intangibilidade

Relendo:
Fragmentos – Caio Fernando Abreu

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.”




Não compreendo o que se passa e já estou farto dessa procura inútil por razões que justifiquem o meu agir, o meu pensar, o meu sentir. Trago da infância certa carência afetiva que tento disfarçar hora com drops de menta forte, hora com um copo de aguardente. Por isso essa sede é tão insaciável - não há parâmetro. Não tenho ponto de equilíbrio, meios termos, ou qualquer outra coisa que possibilite o controle dessa disritmia.

Diz que saturno não anda muito bento e que por isso as chamas dos que são de fogo estão mais intensas e instáveis. Que me importa saturno? Se ele tem anéis tão lindos e ainda assim não se sente belo - ou se gosta mesmo é de implicar com seres menores - que tenho eu haver?

Fragilidade. Vontade de chorar, de gritar, de sumir. De assumir não ter força. Vontade de viajar pra longe, bem longe, sem data de volta, sem destino, sem avisar, sem despedir, sem olhar pra trás, sem lembrar de ninguém. Sem importar com quem fica, com quem se importa com onde e como fico.

E no auge desse egoísmo ainda querer ser lembrado, desejado, querido. E no limite desse mesmo egoísmo querer que alguém me entenda; que compreenda que parti aos poucos para não ter que deixar recado e ainda assim querer ser lembrado ou, mais ainda, respeitado.

Um comentário:

Breno Romanini disse...

Ah, os devaneios de Dani...
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Nem falo mais nada!