15.2.07

Cabeça Ativa

Poesia é uma droga. Corrompe a gente. No primeiro contato você nem gosta tanto. Mas, sem que você planeje ou procure, a poesia te encontra de novo. E lá está você, se entorpecendo. Começa a curtir a onda, percebe que dá barato... e pronto. Ela te corrompe até te dominar.

Você acha que ela é inofensiva, mas não é. Ela te corrompe até te dominar, escute bem isso. Para fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, você precisa dela – poesia maldita. Chega um ponto que você pira. Você consome tanto, mas quer sempre mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais e começa a ver poesia em tudo: em bunda, em poste, em madeira, em nuvem e até em gente morta. Qualquer coisa só faz sentido para você por causa da droga. Tem que ter poesia para você curtir a vida.

Você chega ao ponto de xingar Deus. E ainda acha bonito: “É barroco!” Também pudera. Quem começa com alguns versinhos, dia ou outro, logo, logo salta para alguns sonetos “só nos fins de semana”. Ledo engano. O próximo final de semana demora, maluco. “Segunda-feira é sagrado”, eu sei. Já na terça, que mal há uma trovinha, ou uma odesinha?! Coisa pouca. Bobagem.

Vicia neguinho. Escuta o que eu estou te falando: droga vicia e mata. Aposto que você acha que poesia não mata. É assim mesmo. Depois, você mesmo chama pela morte. A poesia transborda tanto na sua vida, que você começa a achar que as belezas daqui não têm mais mistério. E você quer mais, sempre mais. E vai buscar nos enigmas da morte outras belezas que encantem mais o seu torpor. Conheço muitos que morreram assim: over-dose de poesia. Não acredita? Sá Carneiro, conhece? Nem procure saber. Não se aproxime de gente assim. Poesia corrompe a gente, eu já te disse.

Escute o que eu estou falando: poesia é droga. Quer ficar de boa? Fuma um baseadinho e vai ver a vida passar. Mas fuja da poesia. É droga pesada, cara, sai dessa. Se não, quando você se der conta, estará ouvindo vozes. É impossível controlar. Elas formulam palavras que te confundem e que lhe pesam como chumbo. Reproduzem som ritmado que te envolve e repetem rimas para te manter atento.

Escuta o que eu estou te falando: poesia é droga. Poesia libera enzimas que afetam todos os seus sensores, e estimulam todos os seus hormônios. A adrenalina vai a mil e o coração dispara. As pupilas se dilatam para captar mais luz, ao extremo de você se julgar capaz de enxergar no escuro. Se misturar poesia a álcool então... é bomba! E o que é pior: nem te dá ressaca.

Poesia te engana e você nem percebe. Vicia, neguinho. E quando ela te falta, você passa noite em claro tentando encontrar ao menos uma linhasinha para saciar teu vício. E se você não a encontra, o peito dói. A garganta fica seca e você quer apenas chorar. E nem derramar lágrimas você pode mais, porque seu corpo também depende dela - droga maldita.

Então, escuta o que eu estou te falando. Mexe com poesia não, cara. Fica de boa. Fuma um baseadinho e vai ver a vida passar.


Ouvindo:
O Outro - (Mário de Sá Carneiro)
Voz: Adriana Calcanhoto

Eu não sou eu
Nem sou o outro,
Sou qualquer coisa
De intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim
Para o outro.

12 comentários:

Anônimo disse...

Quando eu crescer quero ser viciada igual você...

rs

E o orkut, hein, quem diria! Vou passar a ler minha "sorte do dia"! rs rs rs

Beijos! (E não abandona seus pobres leitores mais não!!!)

Anônimo disse...

porra bicho ctem a manha em >>>poesia e droga massa de maissss minhas pupilas dilataram cara parabens
jim fabio

Raquel disse...

Olha só, eu já usei essa parada aí, mas eu não sou viciada não, tá ligado? Eu uso só quando eu tenho vontade, é sério...Quando eu quiser parar de usar o bagulho eu paro!
Mas pô, é bom poesia.. Te deixa na boa mermo.
Eu sou mais fã das maresias. Tipo as suas. Suas maresias me fazem revirar os olhos. Ow, olha aqui meu braço arrepiado.
Sacou?

Anônimo disse...

Ese tipo de droga deveria ser distribuida nas escolas, nas casas, nas ruas. Até mesmo nos ônibus, como já o foram há alguns anos aqui em BH.

Quanto a você, rapazinho, já é um caso perdido. Esta cabecinha de miojo naturalmente radioativo não tem salvação. Está condenado a consumir e a produzir poesia, de modo a entorpecer cada vez mais seus leitores.

Grande abraço!

Unknown disse...

Ao menos poesia emociona! Essa droga sim, deve-se oferecer a todos e fazer uso constante... dia e noite. Essa te mata mas não te diminui, não envergonha, não assusta...
Bjos!

Unknown disse...

Nossa fino de mais ... vc tem futuro viu garoto rsrs... amei e isso ai o vida em??? rsrs quero ser viciada em poesia que nem vc viu hehehe ... Melhor né a vida já e uma grande poesia. beijos

Anônimo disse...

Daniel,
Num sei nem o que dizer
se eu fosse 10%viciada em poesia, em pensar, em escrever, e soubesse escrever como vc, seria muito feliz!!!
Quero aprender a pensar, a entender, a escrever e ver as coisas de maneiras especias, ou seja
dar poesia as coisas, dar sentido a tudo!
Um dia eu aprendo!
Um beijo meu amigo
te adoro!

Unknown disse...

Quando a sua poesia ilícita romper a lucidez amarga dos homens,
será prezo por abrir a consciência alheia...rsrsrsr...acho q vicia mesmo!!

du caralho!!
abraços!!!!!!!!

Anônimo disse...

Lindo isso! Até q vc tem futuro menino... apesar da tua chatice vc tem o dom da escrita...

Isso aí de poesia é como aquela coisa que te disse lá em Itambé, sobre o efeito que algumas músicas/pessoas/textos/momentos despertam...
Meu coração lateja... é como quando escuto aquela música, cuja melancolia toma forma de mão que adentra o peito e aperta o coração, no sentido contrário de sua batida usual... e aí o coração ora pulsa, ora é pressionado...

Bjo Bjo

Felipe Pedrosa disse...

continuarei peregrinando por meus versos, tentando intercalar pensamentos. estou viciado a liberdade desconheço

Unknown disse...

É uma droga e uma merda mesmo. O efeito da poesia é mais letal do que parece, uma vez utilizada, é impossível deixá-la. Mais ou menos como aquela coisa da mente que é aberta apenas uma vez para que nunca mais volte ao seu tamanho original. Poesia mano, nem morto. Infelizmente já faço parte do PA, agora é tentar não se matar com ela..só embriagar de leve, de leve...

do carálio demais seu texto, um abraço Daniel!

Francesca Martins disse...

Como disse Clarice:
"Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.

Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação.

Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva.

Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."

Amei seu texto. Gostaria de poder publicálo em meu blog...


Abraços,
Francesca Martins.