14.1.11

Se árvores coubessem em caixas...

Toda vez que minha mãe me observava arrumando mala perguntava, ironicamente, se eu iria viajar ou mudar – se referindo, evidentemente, ao tamanho da mala. Sempre achei um exagero dela – tão exagerada em tudo. E eu não estava errado.

Mudar de casa é surreal. Quem dera coubesse tudo em uma mala, ou três, ou cinco, ou dez. Caixas enormes, grandes, pequenas, menorzinhas, caixas e mais caixas. E todas as malas da casa.

Ah, a casa... quanto móvel, quanto aparelho, quanta panela, vasilha, pratos, copos, talheres – tudo de todos os tipos. E o tanto de “bibelô”, quadros, vasos, plantas. Quanta planta, meu Deus, quantos livros, quantos discos, pra quê tanto papel, é papel demais, é tralha demais. É memória demais.

Quase 27 anos vivendo na mesma casa...

Mudar de casa é surreal. Que confusão! Quanta caixa, quanta tralha, quanta coisa. Quanta memória – é memória demais. É tempo demais.

E o que faço com tanto apego, tanta lembrança? Quase três décadas, meu Deus! É tempo demais. É afeto demais.

E o que faço da goiabeira? Cresci em cima dela, namorei encostado nela, gangorrei minha filha nela. E o pé de acerola? Sempre tão carregado, tão lindo verde-musco salpicado de vermelho-sangue. Tanta vitamina C deixada pra trás...

Mudar de casa é mesmo surreal. Melhor nem ficar pensando nos pés de goiaba, de acerola – a ameixeira, meu Deus, tão frondosa – senão o casal de azaleias – vermelha e branca que a cada ano renovam núpcias e se enfeitam por inteiras na primavera – não me deixará partir. E eu preciso partir.

5 comentários:

Jay disse...

Ô dani, lindo post.
Eu tbm nunca me mudei. e acredito que deva ser MESMO surreal. é aí que vemos como temos coisas guardadas, coisas que até esquecemos que existem. Mas mudar deve ser bom. Muda a casa, a vida muda tbm!
Saudades!

Marcelo Ernesto disse...

Humm, excelência, me deu um aperto no peito. Logo eu, que canto aos quatro ventos que vou me mudar. Juro que fiquei com os dois pés atrás depois desse seu texto sensacional. Parabéns, pelo texto, e boa casa nova!!!

Allex disse...

aiaiai... me lembro de qdo eu fui missionário mórmon, e mudei dezenas de vezes, para outras casas, cidades, com outros companheiros e com gente que eu nunca tinha visto antes! Um grande aprendizado, sem dúvida... mas lembro especialmente, o dia que voltei para minha casa em Curitiba; qdo abri meu armário e reencontrei meus tesouros... meus discos, meus diários, meus gibis do Homem aranha...como dizia Dorothi, do mágico de Oz..."não há lugar como o lar"... seja ele onde for! Parabens pelo texto...como sempre perfeito! Fazia tempo que eu nao aparecia pelas "internets" da vida, mas sempre é bom rever os amigos!Abraços!

Felipe Pedrosa disse...

Só para registrar que ainda me deleito com suas palavras.

Adams disse...

Oi Daniel. Espero que você e sua familia estejam bem! Posso estar enganado mas tive a impressão de ter o visto outro dia: você subia a Maranhão, próximo à Aimores; estava de jeans e camisa vermelha; o primeiro traço que reconheci foi o modo de levar o cigarro de palha à boca. Bem, se não era você, me fez lembrá-lo. Guardo também boas lembranças de sua casa...Abraço!