7.9.08

Tempo



Uma década. Dez anos. Dependendo da perspectiva , não é muita coisa não: são só 3.652 dias(contei com dois anos bissextos!) – é pouco. Mas os números podem ser bem maiores. Depende do valor que se dá ao tempo, que você dá ao seu tempo.

1 década – 10 anos – 120 meses – 3.652 dias – 87.648 horas – 5.258.880 minutos – 315.532.800 segundos ...

Se você tivesse que pagar, em dinheiro, uma diária para a vida, quanto você acharia justo pagar pelo seu dia? E se para ficar com a pessoa que você ama lhe fosse cobrado adicional por minuto, quanto valeria para você e quanto você pagaria a mais? Um segundo é um intervalo de tempo muito pequeno, não é? Mas, imagine quanto Richard Tompson, se lhe fosse possível, pagaria pelos 20 centésimos de segundo que o deixou atrás do ouro nos 100m das Olimpíadas de Pequim?

Terça-feira completam-se dez anos de um dos maiores marcos da minha vida. Não vou entrar em detalhes aqui, porque não carece. Mas no dia 9 de setembro de 1998, por volta das cinco horas da tarde, eu tomei uma decisão que mudou completamente o rumo da minha vida. Eu não tinha noção exata disso, mas a minha atitude naquele dia seria o meu grande divisor de águas.

Eu tinha quatorze anos. Era muito medroso, muito inseguro. E para vencer o medo, eu passei a assumir todos os riscos; a enfrentar meus demônios sem terço ou água-benta nas mãos; a encarar bandido sem colete nem arma; a me aventurar no escuro sem sequer uma faísca de luz...

Machuquei-me bastante neste percurso. Em alguns momentos, minha braveza não foi tão grande, e o medo cedeu lugar ao pânico. Estive tantas vezes cara-a-cara com a morte, como no dia em que fiquei preso por duas nas pedras da cachoeira, sozinho, há 30 metros do chão, sem nenhum apoio ou corda... ou como no dia do assalto, amarrado em um lote vago com um cara louco apontando revólver para mim...

Dez anos se passaram desde a tarde daquela quarta-feira... quanta coisa me aconteceu! E percebo que eu cresci, amadureci, e em certos quesitos até calejei-me. Mas certas coisas não mudaram tanto... E me lembro agora que à época eu era fã da Legião Urbana e que uma das minhas músicas preferidas era Teatro dos Vampiros, cujo verso Eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir, faz muito mais sentido para mim hoje. Na verdade, a letra inteira, cada verso, cada termo, daquela música faz muito mais sentido para mim hoje.

Passei a madrugada de hoje sentado na praça da Liberdade, sozinho, e pensei tanto nos meus últimos dez anos. (todos sabem que eu sou nostálgico, e eu já me cansei de tentar lutar contra essa nostalgia toda...)




Quantas madrugas eu já virei naquele lugar desde os meus quatorze anos. Quantos porres, quantas turmas, quantos romances, quantos beijos. Aquela praça tem um significado muito forte para mim: LI-BER-DA-DE. Tão abstrato este conceito – já reclamei isso antes.
Ainda aos quatorze anos, me senti livre lá quando tomei uma garrafa de balalaika, sem passar mal. Aos quinze, gozei da minha liberdade lá ao ir sozinho, às sextas-feiras, sempre com violão à tira-colo, e voltar para casa a pé, sozinho e bêbado e corajoso e seguro e homem e protegido e livre... Aos dezesseis julguei-me ser o “homem” mais livre do mundo ao esticar uma canga no gramado, desrespeitando a plaquinha de “Não Pise Na Grama”, às três da manhã, acender incensos, liguar um walkman com som estereo e acender um baseado enorme – como se houvesse algo de esplêndido naquilo... aff... Agora com vinte e quatro me senti extremamente livre, há cerca de duas ou três semanas, quando passei pela praça à tarde, correndo, super apressado cheio de compromissos a cumprir, mas decidi-me sentar no banco e admirar os jardins e contemplar a beleza da vida, como se o mundo tivesse parado durante meia hora.

Como dez anos transformam a gente... felizmente! Acho que hoje há pouco daquele adolescente rebelde-sem-causa em mim. Continuo me achando livre para o que der e vier, mas a diferença é que hoje eu sei que se paga pela liberdade e que o preço às vezes é muito alto. Hoje eu sei o que é a aplicabilidade da lei de causa-e-efeito, ação e reação.

Hoje eu dou muito mais valor à minha vida. Se naquela época eu não tinha causa, hoje tenho razões – inúmeras delas. O que move o homem é a falta e, já disse, falta tanta coisa... Os próximos dez anos (se houver este tempo, quem pode prever) são um mistério que eu quero e ei de desvendar!

Ouvindo:
Teatro dos Vampiros – Legião Urbana

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto...

E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos...

Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego...

Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...

Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar...

Quando me vi
Tendo de viver
Comigo apenas
E com o mundo
Você me veio
Como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito...

Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber

E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir...

Vamos sair!
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos
Estão, procurando emprego...

Voltamos a viver
Como a dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...

Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém...

2 comentários:

Unknown disse...

Minha mala tá pronta... bora para Itambé? rsss

Ai ai.. vida adulta complicada, né! Tantos compromissos, expectativas e, ao invés de termos um "gás total" estamos assim, desanimados e cansados, tal qual um velho de 97 anos que lutou em uma Guerra...

Já comprou passagem?
Bjosssss... e óh, amotêe.. haha

Críssia Paiva disse...

Olá Daniel! Conheci seu cantinho através do cantinho do Ewerton e gostei muito! Parabéns!

Realmente estamos a todo instante aprendendo com a vida.... e 10 anos muda muitaaa coisa. Aquilo que antes fazíamos e nos sentíamos tão "diferentes" e especiais por isso, hoje rimos, porque éramos tão normais como qualquer outro, na busca incessante de se encontrar.

Legião.... ah Legião... quem nunca teve uma fase Legião? Quem não sente tamanho saudosismo dessa época? Aiai... doce saudade.

Continuarei visitando seu cantinho e até já adicionei no meu.

Bção