Faltava tanta poesia.
O peito vazio. As mãos pareciam perder, lentamente, o tato. O olfato percebia apenas cheiros ácidos. Os ouvidos já não ouviam, apenas escutavam. A visão estava torpe. A alma opaca.
Tinha que haver mais poesia.
Inquieto áspero e desesperançado perdia-me na busca por mim mesmo. Mas, uma estrada indicou-me a possibilidade do reencontro . De passagem nas mãos e bagagens nas costas, segui trecho da Estrada Real rumo a Itambé do Mato Dentro/MG. E, novamente, perdi-me.
Encontrei muita poesia.
Cores, formas, aromas, sabores, sons e magia em excesso. A sensibilidade de meus (seis ou sete, quem sabe) sentidos foi estimulada de uma só vez - e em demasia. Como não ficar perdido? Para quê conter tanta emoção?
Pessoas lindas me eram poesia bruta - e viva. Cella (sempre) Sing, Jay Jay e DD, Luan de Paula e Paula de Luan. Seres belíssimos. Apaixonantes.
Paisagens bucólicas. Serras - inúmeras serras - verdejantes. Finas garoas. Águas abundantes, que brotam por todo o solo, coloridas pelas rochas. Banhos em rio para limpar o corpo e em cachoeiras para lavar a alma.
Reveillon místico. Nada de balanços ou projeções. Apenas poesias - carícias para corpo, mente e espírito. Lágrimas de alegria banharam-me na madrugada. Na manhã do novo ano, mais brilho nos sorrisos que no céu.
A matemática (que já ouvi dizer é a loucura do raciocínio) fora curiosa: no início eram dois aos quais somou-se um. Aos três somaram-se mais dois. Agrupou-se mais um junto aos cinco e éramos, enfim, seis. Quatro dias. Três casais. Nenhuma incógnita. Logo, dois se separaram, ficaram quatro. Mais dois se retiraram e restamos dois.
Em dupla, seguimos rumo a outras viagens incríveis, inesquecíveis e, quase, indescritíveis. Permitimos que os instantes se fizessem acontecer por si. Não interferimos no acaso. E o universo inteiro conspirou a nosso favor.
No início havia um certo vazio entre nós. O perfume das flores que nos entorpecia nos primeiros quatro dias já não estava no ar. Mulheres... mais que o aconchego da pele na pele, oferecem-nos conforto. E fazem-nos muita falta.
Mas lá estava ela. Imponente. Forte. Belíssima. Carinhosamente apelidada por nós de Cataratassa, tamanha sua força e exuberância. Acampamos atrás da queda da cachoeira, a cerca de um metro e meio da água. Fomos envolvidos pela força da natureza que se manifesta bruta no atrito das águas com as rochas.
“Sonho que se sonha junto é realidade”. Sinergia. Houve entre nós um companheirismo cuja sintonia não carece de explicação. Ganhei um irmão. Nossa parceria há de dar certo. Abençoada já está.
Sentindo a vida pulsar e o sangue correr cada vez mais veloz, compusemos um linda canção. Incompleta, talvez porque não mereça fim. Talvez deva ser como o som daquelas águas: contínua.
Se nos primeiros dias havia muita poesia, nos dias em que ficamos reclusos junto à cachoeira era poesia o que respirávamos. Poesias em prosas. Poesias em versos. Poesias musicadas. Silêncios poéticos.
Permitimo-nos não contar o tempo. Apenas senti-lo. Contemplávamos o “é” das coisas e, assim, sentíamos a beleza da vida.
Contemplação. Esta é a palavra. Observar com admiração. Contemplar se torna ainda mais completo quando se percebe que são os instantes que dão significado à vida.
Todos os instantes foram marcados pela contemplação. E no instante em que observávamos o belo, vi o mais lindo de todos os girassóis.
Em um outro instante, recaíram sobre minha cabeça todas as dúvidas da humanidade. Na razão, apenas uma certeza. Mas, esta não fora, de forma alguma, mais importante que as dúvidas.
Foi tanto sentir. Tanto encantamento. Tentei agarrar todos os instantes a fim de que as sensações se tornassem permanentes. Mas cada instante guarda a sua magia. Os sentimentos lá despertos são perenes. Estão enraizados na memória, para jamais esquecer.
Faltam-me palavras. Minto. Sobram-me palavras. O que aqui registro é apenas o excesso, o que me transborda. Há sentimentos que não se pode, ou não se deve, dividir.
Tinha eu uma sensação plena de felicidade. Não estava alegre, mas sentia-me imensamente feliz e sereno. Talvez fosse um estado de transe ou, de fato, tenha sido envolvido por uma energia cósmica que me foi benéfica e transformadora.
Aprendi muito. Apreendi muito. Sobretudo com os bois. Animais grandes, fortes. Nada hostis. Vivem em grupos. Têm comportamento delicado. Caminham lentamente. Comem com calma. Comunicam-se com os olhos. Mas não sabem cantar. Se cantassem, ganhariam asas. E como dito por Chico, boi voador não pode.
Mas nós podemos cantar. E cantamos muito. E embalados pelas músicas, voamos alto. Voamos além. Ultrapassamos as montanhas de Itambé. Flutuamos sobre os campos. E para o descanso, cá na terra, deixamos a correnteza do rio nos levar.
Mas, é chegada a hora de voltar. E no dia de nosso regresso o céu, finalmente, se abriu. E para despedir, mais banho de cachoeira.
Voltei sereno. Feliz. Otimista. Foi lindo. Foi tudo muito lindo. 2007, que promete, começou lindo!
Penso logo existo, é a máxima. Se existo, logo penso. E pensando assim pensei que penso pouco frente a tudo que se deve pensar. Por isso sinto. E assim, sentindo, me encontrei perdido. É aquela certa insanidade - que sempre me faz bem.
Para minha vida, quero sempre poesia.
O peito vazio. As mãos pareciam perder, lentamente, o tato. O olfato percebia apenas cheiros ácidos. Os ouvidos já não ouviam, apenas escutavam. A visão estava torpe. A alma opaca.
Tinha que haver mais poesia.
Inquieto áspero e desesperançado perdia-me na busca por mim mesmo. Mas, uma estrada indicou-me a possibilidade do reencontro . De passagem nas mãos e bagagens nas costas, segui trecho da Estrada Real rumo a Itambé do Mato Dentro/MG. E, novamente, perdi-me.
Encontrei muita poesia.
Cores, formas, aromas, sabores, sons e magia em excesso. A sensibilidade de meus (seis ou sete, quem sabe) sentidos foi estimulada de uma só vez - e em demasia. Como não ficar perdido? Para quê conter tanta emoção?
Pessoas lindas me eram poesia bruta - e viva. Cella (sempre) Sing, Jay Jay e DD, Luan de Paula e Paula de Luan. Seres belíssimos. Apaixonantes.
Paisagens bucólicas. Serras - inúmeras serras - verdejantes. Finas garoas. Águas abundantes, que brotam por todo o solo, coloridas pelas rochas. Banhos em rio para limpar o corpo e em cachoeiras para lavar a alma.
Reveillon místico. Nada de balanços ou projeções. Apenas poesias - carícias para corpo, mente e espírito. Lágrimas de alegria banharam-me na madrugada. Na manhã do novo ano, mais brilho nos sorrisos que no céu.
A matemática (que já ouvi dizer é a loucura do raciocínio) fora curiosa: no início eram dois aos quais somou-se um. Aos três somaram-se mais dois. Agrupou-se mais um junto aos cinco e éramos, enfim, seis. Quatro dias. Três casais. Nenhuma incógnita. Logo, dois se separaram, ficaram quatro. Mais dois se retiraram e restamos dois.
Em dupla, seguimos rumo a outras viagens incríveis, inesquecíveis e, quase, indescritíveis. Permitimos que os instantes se fizessem acontecer por si. Não interferimos no acaso. E o universo inteiro conspirou a nosso favor.
No início havia um certo vazio entre nós. O perfume das flores que nos entorpecia nos primeiros quatro dias já não estava no ar. Mulheres... mais que o aconchego da pele na pele, oferecem-nos conforto. E fazem-nos muita falta.
Mas lá estava ela. Imponente. Forte. Belíssima. Carinhosamente apelidada por nós de Cataratassa, tamanha sua força e exuberância. Acampamos atrás da queda da cachoeira, a cerca de um metro e meio da água. Fomos envolvidos pela força da natureza que se manifesta bruta no atrito das águas com as rochas.
“Sonho que se sonha junto é realidade”. Sinergia. Houve entre nós um companheirismo cuja sintonia não carece de explicação. Ganhei um irmão. Nossa parceria há de dar certo. Abençoada já está.
Sentindo a vida pulsar e o sangue correr cada vez mais veloz, compusemos um linda canção. Incompleta, talvez porque não mereça fim. Talvez deva ser como o som daquelas águas: contínua.
Se nos primeiros dias havia muita poesia, nos dias em que ficamos reclusos junto à cachoeira era poesia o que respirávamos. Poesias em prosas. Poesias em versos. Poesias musicadas. Silêncios poéticos.
Permitimo-nos não contar o tempo. Apenas senti-lo. Contemplávamos o “é” das coisas e, assim, sentíamos a beleza da vida.
Contemplação. Esta é a palavra. Observar com admiração. Contemplar se torna ainda mais completo quando se percebe que são os instantes que dão significado à vida.
Todos os instantes foram marcados pela contemplação. E no instante em que observávamos o belo, vi o mais lindo de todos os girassóis.
Em um outro instante, recaíram sobre minha cabeça todas as dúvidas da humanidade. Na razão, apenas uma certeza. Mas, esta não fora, de forma alguma, mais importante que as dúvidas.
Foi tanto sentir. Tanto encantamento. Tentei agarrar todos os instantes a fim de que as sensações se tornassem permanentes. Mas cada instante guarda a sua magia. Os sentimentos lá despertos são perenes. Estão enraizados na memória, para jamais esquecer.
Faltam-me palavras. Minto. Sobram-me palavras. O que aqui registro é apenas o excesso, o que me transborda. Há sentimentos que não se pode, ou não se deve, dividir.
Tinha eu uma sensação plena de felicidade. Não estava alegre, mas sentia-me imensamente feliz e sereno. Talvez fosse um estado de transe ou, de fato, tenha sido envolvido por uma energia cósmica que me foi benéfica e transformadora.
Aprendi muito. Apreendi muito. Sobretudo com os bois. Animais grandes, fortes. Nada hostis. Vivem em grupos. Têm comportamento delicado. Caminham lentamente. Comem com calma. Comunicam-se com os olhos. Mas não sabem cantar. Se cantassem, ganhariam asas. E como dito por Chico, boi voador não pode.
Mas nós podemos cantar. E cantamos muito. E embalados pelas músicas, voamos alto. Voamos além. Ultrapassamos as montanhas de Itambé. Flutuamos sobre os campos. E para o descanso, cá na terra, deixamos a correnteza do rio nos levar.
Mas, é chegada a hora de voltar. E no dia de nosso regresso o céu, finalmente, se abriu. E para despedir, mais banho de cachoeira.
Voltei sereno. Feliz. Otimista. Foi lindo. Foi tudo muito lindo. 2007, que promete, começou lindo!
Penso logo existo, é a máxima. Se existo, logo penso. E pensando assim pensei que penso pouco frente a tudo que se deve pensar. Por isso sinto. E assim, sentindo, me encontrei perdido. É aquela certa insanidade - que sempre me faz bem.
Para minha vida, quero sempre poesia.
16 comentários:
Não é à toa que te admiro profundamente! Belo texto, maneira perfeita de descrever o que só se pode sentir! Bjos!!!
Nossa, que maravilha, li e senti saudades.Chorei.
Tenha certeza de que falta muita coisa, por que aqueles instântes foram perfeitos e a perfeição é algo muito dífício de se descrever,talvez impossível, sei lá, quem sabe a perfeição seja algo longo demais. Longo por que não acaba, tenha certeza de que aqueles momentos tem continuação, e, então meu caro, esse "pequeno" texto de nome apaixonante (Lindos instantes, doces sentires)é tido como uma pequena introdução.
A história ainda está por vi, qual é a próxima parada para o carnaval?!
Meu caro, como você escreve bem...
A nossa aventura é mais um texto que eu robo de você, já ta sauvo na minha pasta...
abração!!!!
"São os instantes que dão significado à vida."
Ano novo. Alma nova. Parece que a viagem do réveillon foi praticamente uma recarga completa nas baterias e uma estonteante injeção de vida. Bom te ver (e te ler) radiante novamente.
Que toda a beleza dessa viagem contamine corpo e mente pelo ano inteiro, e que 2007 seja repleto de instantes fantasticamente memoráveis.
Abração!
putaquepariu! que texto!
nossa, dani, quase me fez chorar...!
rs
tenho certeza de que sua viagem foi realmente magnífica!
e eu lembrei muito de ti lá no rio... tanta montanha e um clima tão bom, tudo a ver com o que você gosta.
espero que esse sentimento mágico de ano novo perdure por todo 2007, e que, se você por acaso dele se esquecer, que possa voltar aqui e reviver tudo isso. reviver, porque isso aqui é poesia viva.
beijos! saudade!
Dan Dan!!!!!!
100 coments no post!
Obrigada pela menção a minha pessoa!!!
Sim, foi fantástico mesmo, agradeço a Deus todos os dias por ter pessoas como vcs ao meu lado!
Bjokas!
mt legal dani.. parabens pelo texto..
espero poder curtir algumas viagens destas... abraços..
mt legal dani.. parabens pelo texto..
espero poder curtir algumas viagens destas... abraços..
Dá uma passada no blog para ver as novidades.
Não pára não pára não pára não!
Até eu atualizei o bloguinho... rs
Beijos
Que lindo texto. Por aqui também muitas viagens. Fiquei contentaço quando soube que foi o carinhadoblog que indicou o meu blog. Ele é gente boa.
Pois é, depois de muito tempo, eu tive coisas boas para postar por lá. E adorei suas palavras.
Ah, o cheiro das ruas cariocas... não tem igual.
Abração e volte sempre por lá.
Ei Dan!
Até q enfim, passei pra dar uma olhada!
Agora passarei sempre, eu simplesmente AMEI!!! Muito lindo!
Bom restinho de semana.
Beijo grande.
Ei Dan!
Até q enfim, passei pra dar uma olhada!
Agora passarei sempre, eu simplesmente AMEI!!! Muito lindo!
Bom restinho de semana!
Beijo grande.
oi Daniel, obrigado pela visita e pelo puxão de orelha...hehe... vouo melhorar no blog...te prometo !! teu blog, como sempre, impecável! forte abraço...e feliz ano novo tb...!
Alguns "instantes já" depois dos lindos "instantes já" que ja foram passados em Itambé...continuo recordando. Toda aquela trancedencia fez fortalecer uma amizade q vale apena
quardar à sete chaves. Lavar a alma em cachoeiras, fazer musica e poesia... foram momentos realmente inesqueciveis. A vida é muito pequena para o mundo de conhecimentos e sentimentos q podemos viver!!!
"Sou inquieto, áspero
E desesperançado
Embora amor dentro de mim eu tenha..."
Não me canso de ler esse texto!
E agora, mais do que nunca, sinto uma saudade enorme, vc não tem idéia do tamanho!
Abração meu caro... continue escrevendo sempre.
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