9.10.06

Enquanto escrevo

“Ninguém sabe quem sou eu
Também já não sei quem sou
Eu sei bem que o sofrimento de mim até se cansou
Na imitação da vida, ninguém vai me superar”
Batatinha


Garanto que se pudesse, voltaria no tempo. Não para mudar algo, mas para viver tudo novamente. O passado guarda sabores incomparáveis. Tantas descobertas, tantos encontros, tantos sonhos... Únicos pela novidade, e pelo entusiasmo.

[Um dia, a saudade me tocou e desejei telefonar-lhe. Era tarde. Passavam das dez e não queria incomodar. Meses depois, quando o desejo de ouvir-te voltou, tomei às mãos o telefone, mas exitei. Chovia muito, o céu estava cinza e talvez, de mau humor, não me recebesse bem.]

Imagino que reviver o passado seja uma forma de manter viva a criança que fui. Lembro do brilho que meus olhos tinham e toda avidez com que enxergava o mundo. Esse mesmo brilho, hoje, perdeu parte da essência. Então, olho para trás e o recrio na lembrança.

[“Lembra-se daquela tarde em que lhe confiei um segredo?” Seria essa a pergunta que faria se tivesse telefonado. Não me recordo da confidência que fiz, mas lembro perfeitamente da sombra das árvores, do cheiro de menta e do seu sorriso. Tive medo que me respondesse com desdém, e novamente exitei em ligar.]

Habituo-me com o novo facilmente. Mesmo inseguro, gosto do desafio. Mas percebo que antes encarava a novidade com um encantamento indescritível e imensurável. Não havia, em mim, o receio pelo desacerto. A aventura era sempre a melhor parte da viagem. Agora crescido, me intimido pela incerteza e, muitas vezes, recuo.

[Encontrei uma foto que registra algo que comemorávamos. Ative-me apenas à ternura com a qual nos abraçávamos. Tínhamos uma cumplicidade mútua e pouco importaria saber, hoje, o que era comemorado. Quis muito lhe enviar a foto, mas julguei que não me reconheceria. Guardei-a com carinho.]

Recordo com uma clareza incrível as sensações de todas as descobertas de outrora. O frio na barriga, as pernas trêmulas, as mãos suadas. Até os cheiros e sabores meus sentidos são capazes de recriar. O prazer que tenho por essas lembranças é imenso, por isso sempre as busco.

[Mais uma vez apanhei o telefone. Encontrei um bilhete com a sua letra e tomei coragem de ligar. Mas se eu falasse do bilhete você zombaria de mim. Exitei. Talvez, num próximo ímpeto, eu ligue e consiga dizer o quanto você ainda é presente em minha vida.]

Encontro no tempo já vivido respostas para o caminho que percorro hoje. Percebo que minha dependência do passado é, na verdade, fruto da intensidade com que vivo o meu presente. No futuro, eu sei, ao reler estes textos direi - com lágrimas nos olhos: “Garanto que se pudesse, voltaria a esse tempo”.

7 comentários:

Anônimo disse...

... viver intensamente vale a pena.

Anônimo disse...

Voltar para viver tudo de novo não é uma boa na minha humilde opinião. Eu viveria as dores e os erros de novo... blé

Anônimo disse...

voltar no tempo em algumas situações seria a melhor coisa a se fazer, poderíamos corrigir os erros, driblar a morte de um ente querido, viver mais intensamente o momento que nos arrependemos de não ter sido perfeito, tomar as decisões que deixamos de tomar, fazer as coisas q deixamos de fazer por medo ou talvez por falta de tempo, enfim.... poderia ser ótimo se tivéssemos uma "máquina do tempo", mas assim não viveríamos o futuro, mas sempre estaríamos presos ao passado tentando corrigir nossos erros!!!

BJos DAN

Anônimo disse...

Maravilhoso!!! Afinal amigo, somos duas pessoas nostálgicas e em busca de algo que nem nós mesmos sabemos definir, mas sentimos intensamente...

Mah Caldeira disse...

O MINISTÉRIO DA SAÚDE INFORMA:
Suspende o alergologista que o blog da Mah voltou!! =)

hehehe

PS: Seu texto, belíssimo como sempre.
Beijo!

Unknown disse...

Fala de mim mas aqui já tá começando a ficar verde....

Unknown disse...

Blog atualizado......