Dizem que sou louco. De fato, tenho a impressão que realmente o sou. “De médico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco”, já diz o provérbio. Mas, afinal, o que é ser louco?
Os dicionários apresentam que louco é aquele que perdeu a razão. Sob essa perspectiva, que atire a primeira pedra aquele que jamais tenha sido acometido por impulsos que lhe fugissem à racionalidade. Paixão, ira, vingança, entre outros, são sentimentos que nos fazem, diversas vezes, agir sem pensar.
Mas a loucura é isso? É simplesmente “agir sem pensar”? É claro que essa discussão exige embasamento teórico profundo. Inúmeros são os estudiosos que se dedicaram – e ainda dedicam – a compreender os mecanismos da psique humana e não devem, de forma alguma, serem ignorados. Mas não pretendo, aqui, escrever um artigo sobre o tema.
Venho me dedicando há algumas semanas a produzir uma reportagem sobre a luta antimanicomial, movimento que objetiva acabar com os manicômios no Brasil. Tive a oportunidade de visitar o Hospital Colônia de Barbacena, o “lendário” manicômio do Estado onde milhares de pessoas sofreram os horrores de um sistema psiquiátrico ineficaz, autoritário e desumano. Em Barbacena, pude conhecer vários portadores de sofrimento mental, mais conhecidos como “loucos”.
Como leigo no assunto, posso afirmar que a doença mental é algo assustador. Ao contrário do “poetismo” ou “humorismo” empregado diversas vezes à figura do louco, percebi, durante o tempo em que estive nos manicômios da cidade de Barbacena, uma realidade dura, e difícil de ser compreendida.
Observei em meu contato com os pacientes dos hospitais psiquiátricos que cada um deles vive em seu próprio mundo, em sua própria realidade. Seria essa a ausência de razão? A resposta, ao que tudo indica, não é tão simples. São inúmeros os distúrbios mentais – psicopatia, esquizofrenia, psicoses, entre outros – e para cada um há um tipo de comportamento, de sintoma, de sofrimento.
Profissionais da área da saúde mental relataram-me algumas “ausências de razão” às quais os loucos são acometidos, e fiquei impressionado. Vai muito além de uma pessoa afirmar ser Napoleão Bonaparte, ou escutar vozes. Já imaginou o que é ter seu corpo desmembrado? Imagine então que de uma hora para outra você vê seus braços serem descolados dos ombros, suas pernas se dissolverem no ar... Loucura isso? Sim, é uma loucura. Com a ressalva de que o doente mental não “acha”, por exemplo, que seu corpo está sendo desmembrado, ele tem certeza que isso acontece. Ele não só vê, como sente. Essa é a realidade para ele. (OBS: como disse, são inúmeros os distúrbios mentais e a cada um se associa um tipo de comportamento, sintoma, sofrimento, etc)
Com o pouco (que não é tão pouco assim!) que tenho lido, escutado, discutido e observado sobre a loucura nos últimos dias poderia discorrer linhas e mais linhas de textos (principalmente de questionamentos). O assunto é muito amplo, muito complexo e, particularmente, fascinante.
Em afirmativa pessoal (e filosófica!), concluo minhas observações em relação à loucura da seguinte forma: a insanidade dos loucos possui razão que a justifique, já a insanidade de nós, “normais”, essa não tem a mínima razão, não se explica.
2 comentários:
“De médico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco”? Bem, acho que você, antes de vir a este mundo, saltou a fila da medicina pra passar mas de uma vez nas outras duas.
Concordo com sua conclusão, com a ressalva de que penso que alguns de nossos atos, ao contrário de não ter explicação, podem sim se bem explicados, mas por razões às vezes inconfessáveis.
Dani!
Me identifiquei muito com texto, em relação ao que conversamos, eu acho q se eu não tomar uma atitude, eu vou enlouquecer!!!
Eu preciso encontrar um novo amor, colorir a minha vida, como vc mesmo disse!!!
Adorei o comentário!
bjs
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