Cotidiano
Preciso me apaixonar. Na verdade estou apaixonado. Se não estivesse, não teria me levantado hoje. Sou movido pela paixão, sempre.
Preciso me apaixonar. Na verdade estou apaixonado. Se não estivesse, não teria me levantado hoje. Sou movido pela paixão, sempre.
Meu despertador, hoje, tocou certa de 5 vezes na função soneca. A música que meu despertador toca é Cotidiano, do Chico Buarque: "Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode a seis horas da manhã..." Somente na úlima lembrei-me de minha paixão e criei forças para sair da cama.
Como habitualmente faço, levantei-me, fui à cozinha, tomei um gole de café que acabara de ser coado pelo meu avô, assendi um cigarro, o fumei e fui tomar banho. O tempo todo pensava em minha atual paixão. Inclusive cantarolei uma canção para ela enquanto me banhava.
Ao sair do banho, fui para o meu quarto e liguei o som. A música escolhida era para ela, minha paixão, claro.
O céu estava nublado, completamente cinza. Poderia ter me entregado ao desânimo matinal. Afinal, céu nublado combina com cama quente, não com ônibus lotado! Mas minha paixão motivou-me, e enfreitei o transporte coletivo com alegria e bom humor.
O dia está tranquilo. Pouco trabalho, ouvindo música e, como não pederia deixar de ser, pensando em minha grande paixão.
São muitas as minhas paixões. Algumas são constantes. Umas mais intensas outras nem tanto. Certas paixões desaparecem para ceder lugar a novas paixões. Outras já não permitem ser esquecidas.
A paixão que tem me motivado nos últimos dias, sobretudo neste 29 de dezembro, é única. Ela é constante. Metafísica. Seu nome é Procura e sua função é motivar-me a buscar sempre uma segunda paixão que a complete, que lhe confira razão. Procura aguça meu desejo por uma paixão carnal, quente, alucinante, entorpecente. Daquelas que não adianta procurar, porque, fatalmente, é sempre ela quem o encontra. Ela pode encontrá-lo na esquina de sua casa, dentro do ônibus, nas avenidas movimentadas da cidade, em uma passarela, ao lado de uma banca de jornais, em uma padaria, na fila do banco, na lanchonete...
Estive em todos estes lugares hoje. Ela não me viu. Se viu, ficou tímida e preferiu esperar uma próxima oportunidade.
Enquanto isso, continuo pensando em Procura.
Esse é meu cotidiano.
ouvindo:
Desde que o Samba é Samba (Caetano Veloso)
Voz: João Gilberto
A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
À noite a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora
O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou
O samba não vai morrer
Veja, o dia ainda não raiou
O samba é pai do prazer
O samba é filho da dor
O grande poder transformador
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