18.9.10

Como assim?

Pois para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
- Vinícius de Morais

Chegou seca a notícia, moço, como que casual, corriqueira: mas ele já até morreu, como assim ele morreu, já faz mais de mês até fui ao enterro, como assim eu insistia. Fui logo conferir e encontrei tanta saudade, descanse em paz, você faz muita falta, te amo para sempre. Para sempre, eu me perguntei, mas não era para ser sempre pra sempre? E encontrei lá também sua tia, aquela que tanto gosta, mandando força, mandando beijo, mandando bronca, dizendo que faria bolos e mais bolos para comemorar quando você saísse dessa. Dessa o quê, cara, o quê que houve, cadê você? Conferi no celular, seu nome estava lá. Olhei sua foto e estava lá o seu sorriso, o seu olhar terno. Como assim, cara, o quê que rolou? Porra, tu sofreu, doeu muito, sentiu muito medo? Onde é que você tá, cara? Vontade de te dar um abraço, de te fazer sorrir como naquela noite, lembra? Dois perdidos numa noite suja! Ou seriam dois sujos numa noite perdida? Ao contrário, foi noite ganha, muito bem ganha. Ok, ok, os dois estavam muito sujos, mas cheirando a Armani, claro. Tão rápido, moço, por que tão breve? Queria ter te visto antes, lhe desejado boa sorte, ter lhe dito que não foi breve: és para sempre. Queria ter te dado um abraço forte, bem forte, como este que lhe mando agora, assim, apertado, sincero, acompanhado de um beijo babado na testa. Divirta-se aí entre as nuvens – deve ser uma delícia. Dê notícias se tiver como. Axé, querido. Siga em paz.

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