Você lembra? Não... não lembra. Na época nem supúnhamos nos conhecer um dia. E mesmo se nos conhecêssemos, não sei se você lembraria. Na verdade, acho que ninguém lembra, ou pelo menos nunca comentaram nada. Mas eu lembro e é exatamente isso que dói: eu. Ser verdadeiro consigo próprio é quase um exercício de tortura. E me torturo demais lembrando o brilho que meus olhos tinham. Você não lembra.
Desde bem pequeno, digo, bem novinho, eu criei o hábito de me encarar no espelho e conversar comigo. Sim, con-ver-sar, nada de falar sozinho. É uma daquelas técnicas que você escuta em qualquer conversa de gente grande, ou então que dá na TV mesmo, e então você chega em casa faz o exercício e o recria como se fosse seu. Foi assim que criei esse hábito de conversar comigo mesmo de frente ao espelho. Sim, con-ver-sar. Mantive esse costume por anos, até que o brilho começou a se ofuscar enquanto eu me afastava de mim.
Sabe que hoje eu acordei e vi que faz uma manhã linda, a primeira do inverno deste ano. Adoro as manhãs de inverno! Assim como as da primavera. Já as tardes, prefiro as de outono, e as noites, as de verão. Pois bem, lembrei que era inverno e me veio à mente algo que eu ouvi, certa vez, sobre o inverno ser a época do renascimento. Salvo engano tem a ver com a tradição wicca, (quando te conheci você era fã disso!), e que para eles esta estação representaria o período fértil, e que seria nessa época a comemoração do ano novo. Não sei ao certo. Mas lembrei disso e olhei pro céu e pensei por que não agora e depois pensei por que não antes e depois voltei pra cama e pensei mais em por que não antes.
A cabeça meio zuada e um gosto forte de cerveja na boca me fizeram pensar se eu não estaria bêbado ainda. Mas não. É apenas reflexo de mais uma noite de intenso vazio, dor travada na garganta. Lembrei da noite que não teve nada demais, mas que poderia ter sido mais que especial. Faltava alguma coisa. Várias coisas faltavam. Porque o vazio, como os buracos negros, sugam tudo o que está próximo e as coisas que você tem passam a parecer faltar também.
Lembrei das coisas que me faltam. E me vieram tantas coisas na cabeça. Coisas como um amigo de infância, como colegas de trabalho, amigos da escola, da faculdade, sem falar de outras coisas que conheci em lugares por onde passei. Sem contar aquele pôr-do-sol no alto da serra, ou o riacho cantando baixinho durante um estonteante amanhecer de primavera. Coisas. Lembrei das coisas que me faltam e pensei que as que mais doem não são aquelas que nunca tive, mas as que perdi. E concluí que perdi por que coisifiquei demais, e que coisas se perdem facilmente.
Lembrei das coisas que me faltam e depois me lembrei das escolhas que fiz. Escolhas são tão importantes. E inevitáveis. Escolher é arriscar e ter cinqüenta por cento de chance para o sucesso ou para o fracasso. Lembrei que poucas coisas comportam o meio-termo, é oito-ou-oitenta. Mas pensei que o equilibro é possível, apesar de difícil. Difícil, muito difícil fazer escolhas. Daí lembrei dos conselhos que pedi, dos que recebi sem pedir, dos conselhos que dei. E lembrei daquela senhora que aconselha o uso do filtro-solar. Procurei o vídeo e o revi. Lembrei de como pode ser proveitoso ouvir palavras de auto-ajuda.
“Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração leviano.” Queria conhecer essa tal senhora, gosto dos conselhos dela e me admira sua experiência de vida. Queria não conhecer gente de coração leviano. Queria saber ao certo quem é leviano comigo e se disfarça, ou disfarço. Queria me antecipar à minha leviandade também. Lembrei dos amigos, dos colegas, dos companheiros, dos oportunistas, dos falsos e lembrei de novo das coisas que me faltam. Faltam tantas.
Lembrei que fazia uma linda manhã de inverno, a primeira do ano, e que merecia caminhar um pouco, respirar um pouco, sentar ao sol. Apanhei o cigarro e, pouco me importando com a minha cara amassada ou com o bafo de noite com dor travada na garganta, saí. O cachorro me acompanhou até o portão e com um leve gemido me fez lembrar que ele foi meu grande companheiro e eu o abandonei. Uma coisa que não perdi, mas esqueci ao meu lado. Apanhei também a coleira e saí com meu grande companheiro, hoje velho, cego, fedorento, mas ainda companheiro, carinhoso, honesto e leal.
De muitas coisas lembrei enquanto caminhava ao sol, fumando, e segurando meu velho companheiro pela coleira. Lembrei de antigos sonhos, de músicas, poemas, de cheiros e sabores. Lembrei do mar. Quanta saudade sinto do mar. Lembrei novamente das coisas que me faltam e que são tantas. Lembrei de você. Lembrei ainda de como pequenos hábitos são importantes. Bons e simples hábitos, como o de passear com seu cachorro ou como aquele de se sentar de frente ao espelho e conversar consigo próprio. Lembrei que falo muito sozinho e que há tempos não converso comigo. E foi então que lembrei do brilho que meus olhos tinham. Lembra?
Desde bem pequeno, digo, bem novinho, eu criei o hábito de me encarar no espelho e conversar comigo. Sim, con-ver-sar, nada de falar sozinho. É uma daquelas técnicas que você escuta em qualquer conversa de gente grande, ou então que dá na TV mesmo, e então você chega em casa faz o exercício e o recria como se fosse seu. Foi assim que criei esse hábito de conversar comigo mesmo de frente ao espelho. Sim, con-ver-sar. Mantive esse costume por anos, até que o brilho começou a se ofuscar enquanto eu me afastava de mim.
Sabe que hoje eu acordei e vi que faz uma manhã linda, a primeira do inverno deste ano. Adoro as manhãs de inverno! Assim como as da primavera. Já as tardes, prefiro as de outono, e as noites, as de verão. Pois bem, lembrei que era inverno e me veio à mente algo que eu ouvi, certa vez, sobre o inverno ser a época do renascimento. Salvo engano tem a ver com a tradição wicca, (quando te conheci você era fã disso!), e que para eles esta estação representaria o período fértil, e que seria nessa época a comemoração do ano novo. Não sei ao certo. Mas lembrei disso e olhei pro céu e pensei por que não agora e depois pensei por que não antes e depois voltei pra cama e pensei mais em por que não antes.
A cabeça meio zuada e um gosto forte de cerveja na boca me fizeram pensar se eu não estaria bêbado ainda. Mas não. É apenas reflexo de mais uma noite de intenso vazio, dor travada na garganta. Lembrei da noite que não teve nada demais, mas que poderia ter sido mais que especial. Faltava alguma coisa. Várias coisas faltavam. Porque o vazio, como os buracos negros, sugam tudo o que está próximo e as coisas que você tem passam a parecer faltar também.
Lembrei das coisas que me faltam. E me vieram tantas coisas na cabeça. Coisas como um amigo de infância, como colegas de trabalho, amigos da escola, da faculdade, sem falar de outras coisas que conheci em lugares por onde passei. Sem contar aquele pôr-do-sol no alto da serra, ou o riacho cantando baixinho durante um estonteante amanhecer de primavera. Coisas. Lembrei das coisas que me faltam e pensei que as que mais doem não são aquelas que nunca tive, mas as que perdi. E concluí que perdi por que coisifiquei demais, e que coisas se perdem facilmente.
Lembrei das coisas que me faltam e depois me lembrei das escolhas que fiz. Escolhas são tão importantes. E inevitáveis. Escolher é arriscar e ter cinqüenta por cento de chance para o sucesso ou para o fracasso. Lembrei que poucas coisas comportam o meio-termo, é oito-ou-oitenta. Mas pensei que o equilibro é possível, apesar de difícil. Difícil, muito difícil fazer escolhas. Daí lembrei dos conselhos que pedi, dos que recebi sem pedir, dos conselhos que dei. E lembrei daquela senhora que aconselha o uso do filtro-solar. Procurei o vídeo e o revi. Lembrei de como pode ser proveitoso ouvir palavras de auto-ajuda.
“Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração leviano.” Queria conhecer essa tal senhora, gosto dos conselhos dela e me admira sua experiência de vida. Queria não conhecer gente de coração leviano. Queria saber ao certo quem é leviano comigo e se disfarça, ou disfarço. Queria me antecipar à minha leviandade também. Lembrei dos amigos, dos colegas, dos companheiros, dos oportunistas, dos falsos e lembrei de novo das coisas que me faltam. Faltam tantas.
Lembrei que fazia uma linda manhã de inverno, a primeira do ano, e que merecia caminhar um pouco, respirar um pouco, sentar ao sol. Apanhei o cigarro e, pouco me importando com a minha cara amassada ou com o bafo de noite com dor travada na garganta, saí. O cachorro me acompanhou até o portão e com um leve gemido me fez lembrar que ele foi meu grande companheiro e eu o abandonei. Uma coisa que não perdi, mas esqueci ao meu lado. Apanhei também a coleira e saí com meu grande companheiro, hoje velho, cego, fedorento, mas ainda companheiro, carinhoso, honesto e leal.
De muitas coisas lembrei enquanto caminhava ao sol, fumando, e segurando meu velho companheiro pela coleira. Lembrei de antigos sonhos, de músicas, poemas, de cheiros e sabores. Lembrei do mar. Quanta saudade sinto do mar. Lembrei novamente das coisas que me faltam e que são tantas. Lembrei de você. Lembrei ainda de como pequenos hábitos são importantes. Bons e simples hábitos, como o de passear com seu cachorro ou como aquele de se sentar de frente ao espelho e conversar consigo próprio. Lembrei que falo muito sozinho e que há tempos não converso comigo. E foi então que lembrei do brilho que meus olhos tinham. Lembra?
5 comentários:
Isso sempre acontece. A tal Lei. Prefiro chamar de conexão. Espiritual, acredito eu.
Mas também podemos pensar nos imãs... se atraem e se repelem com a mesma intensidade, enfim...
Já o inverno, por ser frio, aguça nosso instinto por calor, o que nos faz pensar no por quê da falta dele.
E ao contrário da “outra parte do imã”, me doou muito e espero o mesmo. E o pior, reconheço isso!
O julgamento? O faço a cada instante. Prefiro julgar minhas atitudes a dos outros. Tenho aprendido a fazer o contrário, mas sempre me arrependo. Quem sou eu para julgar?
E apesar de tudo, lembro-me de muita coisa. Muita. E concordo com Vinícius... O que nos conforta é saber que alguém se lembra de nós, enquanto lembramos desse alguém.
Não!!! Venho me deparar com esse post logo hoje, to sentimental demais.
Manhãs de inverno, amo muito!!!
"Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração leviano.”
Aff... há muito deixei de aturar gente de coraçao leviano, mas não vou mentir, já fui leviano com o coração dos outros.
Abraço
estava procurando sobre solilóquio e encontrei essa paisagem de inverno, que falou tão gostoso aos meus sentidos... nesse dia de inv(f)erno paulista... que coisa incrível você me fez perceber! O meu trabalho sobre dialogia começa com uma monologia!!!, também tinha esse costume e, era bom, falar comigo mesma, hoje já não falo, penso, penso e fico a ruminar idéias que não saem pela boca e não vão encontrar outras...
“Algumas mulheres .... se achegavam, benziam-se e monologavam uma oração.”
(Geraldo França de Lima, Branca Bela, p. 79.)
noossa,
viajei no seu post...
às vezes, me pego pensando no passado, seja ele profundo ou recente... nas coisas que poderia ter feito, como seria se eu agisse de forma diferente.. bate um arrependimento para quem é perfeccionista ...
mas eu gosto mesmo é de olhar pra frente.. pq essas coisas só servem para reverenciar nosso futuro, nada mais .. Olhamos para trás e buscamos um futuro melhor, baseado em nossas experiências e reflexões...
enfim ..
ainda vou comer chocolate com vinho pra "ver no que dá"... :P ..
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